Opinião sobre ferramentas de AI vinda de um programador veterano

Guilherme Guimarães
5 min readFeb 22, 2023

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Ferramentas de OpenAI, como ChatGPT e DALL-E, se tornaram dos assuntos mais discutidos no mundo, muito por conta dos seus resultados obtidos em diversas áreas. Basta um pedido em texto e você receberá uma resposta: essa pedido pode ser uma pergunta, uma arte gráfica, composição, programa de computador, até falar.

O assunto também chegou no meu grupo principal de amigos, que é composto de cientistas, programadores, artistas, conhecedores de tecnologia, enfim, é um grupo bastante estudioso que costuma discutir sobre coisas relacionadas à ciência e tecnologia.

Depois de um tempo rolando as coisas sobre OpenAI/ChatGPT, acabamos discutindo sobre o tema. Meu objetivo é apresentar aqui minhas conclusões que foram formadas durante esse debate.

P.S.: Estarei me referindo à Inteligência Artificial como AI.

“O que pensar desse momento?”

Para mim, o efeito dessas ferramentas se integrando ao meio profissional vai acontecer lentamente, mas ocasionará numa nova revolução industrial; só que dessa vez atingindo processos que jamais se pensavam industrializar antes, os processos criativos.

Mais a frente eu detalho alguns desses efeito para dar clareza no que estou dizendo. Se por acaso você é interessado em entender em maiores detalhes os efeitos das revoluções industriais anteriores, procure livros sobre o tema (ou pergunte ao ChatGPT, risos).

“Essas ferramentas vão roubar o emprego das pessoas?”

Essas ferramentas vão diminuir a necessidade de profissionais operacionais (ou seja, aquelas que executam) mas não a de profissionais criativos (ou seja, aqueles que criam/refinam). Afinal, são os profissionais criativos que formulam novos processos e refinam os já existentes dentro de cada área.

O fato é que é assim desde a Revolução Industrial Inglesa; especialistas de cada área ainda terão o seu espaço e provavelmente serão ainda mais importantes para a indústria do que já são hoje.

Em adendo, eu sei que é muito comum discutirmos sobre o efeito imediato dessas mudanças e até resistirmos, mas é importante sermos conscientes que isso irá acontecer, independente da nossa opinião. Não acho que é produtivo investir energia em pensamentos que resistam à ideia.

“Quem são os maiores beneficiados dessa revolução? São as grandes corporações, certo?”

Então, as pessoas costumam dizer que são as grandes corporações devido ao efeito mais imediato: redução de custo e eliminar erro humano dos processos, assim como aconteceu com as revoluções industriais anteriores.

Mas sinceramente, isso é muito pouco quando olhamos pro futuro. As pessoas que passam a poder consumir esses serviços eficientes à baixíssimo custo acabam se tornando os maiores beneficiados. Temos exemplos bem claros disso: comida, energia, saneamento, remédios, mobilidade, computadores.

O mundo que temos hoje, que nos permite explorar coisas fora do essencial para sobreviver, existe graças ao efeito da industrialização.

“Como devemos ver o eminente processo de industrialização sobre arte, música, dublagem a partir dessas ferramentas de AI?”

Olha, essa pergunta é bem complicada e exige bastante para entender e explicar individualmente cada uma das áreas, mas duas coisas que prevejo pra geral (e acabou sendo unânime entre os programadores do grupo que discutiram):

  • Adequação e novas teorias para criação a partir de AI

Pode soar exagerado, mas o que estamos presenciando não é nada além de novos meios para fazer coisas que já fazíamos; com a diferença crucial que elas não feitas da mesma maneira que pessoas fazem (ai entra no critério sobre como cada ferramenta de AI funciona e interage com sua base de dados).

Hoje os artistas são apoiados por diversas teorias, práticas e ferramentas para criar suar obras. Esses mesmos artistas hoje podem (e alguns já estão) usar de AI para exploração e suporte. Novos aspirantes à arte vão provavelmente aproveitar o embalo e aprender a fazer arte a partir do uso refinado dessas ferramentas de AI.

Isso significa que artistas, novos e veteranos, fazendo uso dessas ferramentas vão eventualmente criar teorias dedicadas para o uso delas.

  • Concretização mais objetiva do que é arte para consumo

É bem natural refletir se algo criado por AI é realmente arte.

O que eu vejo: desde que as coisas criadas por AI cumpram o papel esperado, as pessoas vão consumir porque a grande maioria compra o resultado e não o processo. Isso é um fato já atestado de várias formas; desde industrialização mais clássica, como da agricultura e pecuária, até aceitação de processos mais duvidosos, como fast-food.

“Ah, mas quando você consome arte de AI, você não está comprando o produto criativo de uma pessoa, mas uma aberração sem alma.”

Olha, antigamente se diziam coisas parecidas sobre artistas usarem ferramentas de edição digital. “Isso faz um monte de coisa pelo artista. Não é arte legítima.” “O artista passa a depender demais disso e não consegue desenvolver independência.”

O problema com esses pensamentos, já naquela época, é que concentrava atenção demais numa percepção seleta e pouco prática de alguns nomes e escolas de arte. Eventualmente, a opinião sobre isso foi gradativamente mudando, e no fim, foi percebido que ferramentas de edição digital eram mais maneiras de artistas explorarem sua capacidade criativa.

Por exemplo: o quão importante é conseguir fazer um circulo perfeito à mão em vez de usar um compasso? Não muito.

“Mas no exemplo que você usou ainda era o trabalho de uma pessoa. O trabalho feito pela AI não foi feito por uma pessoa.”

Existem várias opiniões sobre esse tópico e cada uma delas está certa dentro das importâncias que elas dão. Para mim o trabalho da AI é legítimo porque é algo novo (99% dos casos) e são pessoas usando dessas ferramentas.

“O trabalho das AIs nunca vai criar algo realmente novo. Sempre vai ser copiar e modificar”

Pessoas geralmente aprendem através de contextualização, repetição e refinamento; ou seja através da observação de trabalhos anteriores. Nem sempre pessoas estão criando coisas novas.

E nem sempre a intenção é criar algo puramente novo. Por exemplo, desenhos japoneses conhecidos como anime. Quando os artistas dedicados à essa indústria, repetem seus processos de criação, com os mesmos padrões extremamente específicos, elas estão fazendo do mesmo ou criando algo novo?

E outro adendo: é bem provável que AIs sejam capazes de criar novos conceitos/práticas para exercício humano. Já que AIs são muito boas em reconhecer padrões, é capaz construirmos novos métodos através desses padrões evidenciados.

“Essas AIs não tem o direito de usar a base de dados que usa!”

Bom, será? Não há nada que impeça uma pessoa de usar referências para formular um trabalho próprio, inclusive as pessoas são legalmente protegidas para poder fazer isso.

Pessoalmente, não acho que deveria ser muito diferente com essas ferramentas. Fica à responsabilidade dos usuários garantir que o trabalho resultado não é uma cópia literal de outra obra. Nesses momentos mais iniciais, eu sugeriria inclusive que é mais prudente não usar o trabalho de AI como um trabalho final.

Por fim, concluindo meu pensamento, independente se você é um profissional técnico ou gerencial, tenha entendimento aprofundado sobre essas ferramentas.

  • Para profissionais gerenciais: é importante ter clareza sobre os capacidades/limites dessas ferramentas antes de propor ideias usando elas.
  • Para profissionais técnicos: entenda como essas ferramentas podem no exercício do seu trabalho.

Muito obrigado e até a próxima.

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